Festa Segura

Seguranças que fazem bicos à noite sustentam a informalidade

Lizie Antonello

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Uma cidade universitária é, naturalmente, uma cidade cheia de festas. Depois da tragédia na boate Kiss, Santa Maria mudou muito sua noite por vários aspectos. Mas se há um quesito que segue exatamente igual é o serviço de segurança.

Das cinco boates procuradas pela reportagem, três contam com serviços de segurança profissional terceirizada. As outras duas, têm funcionários próprios que desempenham a função de porteiros, mas que, segundo os frequentadores, volta e meia, fazem as vezes de segurança. Eles engrossam uma estatística imprecisa, mas preocupante: o número de pessoas que desempenham o ofício de segurança de maneira informal. E esse é o tema da segunda reportagem de uma série que começou na edição do fim de semana e que mostra como funciona o serviço de segurança privada no Coração do Rio Grande.

Quem são os seguranças que atuam nas casas noturnas de Santa Maria

Muitos seguranças são contratados por empresas, com carteira assinada e direitos trabalhistas garantidos. Mas muitos têm outros empregos e desempenham a função como bico à noite aos finais de semana, contratados informalmente ou como horistas, por empresas que atuam na área e terceirizam o serviço ou pelos próprios estabelecimentos. Nesse caso, os informais ficam fora da contabilidade da BM, dos sindicatos e do Ministério do Trabalho.

_ Tudo envolve o custo. Os empresários que querem abrir uma empresa e não podem arcar com as despesas de seguranças profissionais buscam pessoas com experiência no ramo, como policiais aposentados, e colocam para trabalhar. É um funcionário que vai sair mais barato _ diz Érico Nallem Jorgens, da Comissão de Vistoria para Assuntos de Segurança Privada da Polícia Federal.

Landerson Fontoura é dono da Garbo Serviços, empresa que presta mão de obra para portarias, e acredita que as casas noturnas da cidade deveriam contar com seguranças profissionais.

_ Acho que casas noturnas têm de ter seguranças habilitados, credenciados. Mas muitas têm freelancers, que trabalham por noite, para ganhar de R$ 50 a R$ 80. As pessoas não têm nem ideia do que tem (de seguranças) no mercado informal hoje em Santa Maria _ diz Fontoura.

A Polícia Federal (PF) tem controle sobre os vigilantes que podem trabalhar armados, porque ao final do curso de formação ou de reciclagem, eles têm a carteira de trabalho carimbada pela com a autorização para atuar como vigilante, com número de registro da profissão no Ministério do Trabalho.

_ Existe um controle. Claro que não é 100%, mas eles estão sob fiscalização. Mas a gente não sabe quem são essas pessoas que trabalham desarmadas _ diz Jorgens. Também membro da Comissão de Vistoria da PF, Elson de Almeida Villagran teme que a informalidade possa provocar novos incidentes:

_ Espero que não deixem acontecer uma tragédia, como foi com a Kiss, para perceber o quanto é perigoso manter profissionais despreparados nesses locais de reunião de público. Nesses ambientes, a qualquer hora, sem a preparação adequada, essas pessoas podem matar alguém.

Um segurança, que prefere não ser identificado por medo de represálias, diz que atua no ramo desde 2002, conta que foi obrigado pela empresa em que trabalhava a atuar armado:

_ A empresa não tinha alvará para atuar na área de vigilância, mas exigia que a gente trabalhasse armado, com revólveres, armas "frias". Se não trabalhasse armado, não pagavam a gente. E, se roubassem alguma coisa, descontavam do nosso salário. Trabalhávamos todos em desvio de função. Era contratado como porteiro e fazia serviço de vigilância. Tenho muitos amigos que passam por isso. Eles te obrigam a trabalhar de uma maneira e dizem que, se tu não quiser, há 10 l"

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